sábado, 2 de janeiro de 2016

Ano Novo! (Mas as mesmas furadas)

Como tudo que é bom vem em dobro, uma semana depois do Natal vem o Reveiõm Réveillon Fim do ano! Depois daquela festa família onde celebramos de maneira ímpar a chegada do Papai Noel o nascimento de Cristo, chegou a hora de nos reunirmos novamente com pessoas queridas para nos despedirmos do ano que se termina e para darmos as boas vindas ao novo ano que começa. Tudo isso regado a muito amor, paz, harmonia, simpatias estranhas, tio bêbado e cidra Cereser até o talo!




Aqui no Rio de Janeiro, purgatório cidade onde habito, existem duas modalidades de se comemorar o fim de ano: ou fica-se em casa, onde, assim como no Natal, quantidades absurdas de comidas são preparadas, ou vai-se à praia, onde se comemora com familiares e amigos junto com MILHÕES de pessoas. A primeira é basicamente um repeteco do Natal, agora com um adendo. Na virada do ano, há a presença dos fogos de artifício, que sempre assustam as senhorinhas e fazem com que os pobres cachorrinhos se assustem, levando-os a correr como nós corremos atrás de promoções no Guanabara. A segunda opção possui alguns detalhes mais sórdidos, que merecem uma análise mais profunda.

A ida à praia para a noite de ano novo começa na manhã do mesmo dia. É o momento de separar o material a ser levado. Há aquelas pessoas que decidem ir sem levar nada, deixando para pagar 5 reais na latinha de Cintra na beira da praia. Mas há aqueles grupos mais bem preparados, que decidem levar todo um aparato para a orla, evitando qualquer gasto desnecessário e fazendo daquele pequeno metro quadrado de areia uma extensão do próprio lar. A lista de itens necessários variam, mas passa, normalmente por aquela tenda árabe chiquérrima, um isopor, onde se encontra cervejas, água, uns poucos refrigerantes e as garrafas de cidra Cereser (não podem faltar!), descartáveis em geral, animais mortos e assados e farofa que, até o fim do dia, irão se confundir com a areia.

Para garantir um bom lugar, é preciso chegar cedo à praia escolhida. Assim, aproveita-se para dar aquele último mergulho no mar, dividindo espaço na água com pessoas, flores, lixo, barquinhos e afins. Inclusive, desde cedo a casa de Iemanjá recebe uma infinidade de oferendas. São flores, barquinhos com pentes de plástico, espelhos de plástico, flores de plástico e coisas compradas na Rua da Alfândega. Essa mesmas pessoas que dão esses pequenos mimos a Iemanjá reclamam do ano dizendo que foi uma merda. Tenta gastar um pouquinho mais com os presentes, queridão. Creio que Iemanjá não gosta muito dessas coisinhas de plástico. Só uma dica.

Enfim, escolhido o lugar, próximo ao palco, tenda montada depois de um certo trabalho, é só curtir. A noite vai chegando, o lugar vai enchendo. As pessoas começam a fazer um biombo improvisado com as toalhas pro pessoal trocar de roupa, visto que estavam de biquíni curtindo a água do mar e precisam colocar sua roupa branca. A praia vai enchendo. Os shows começam. Uma confusão aqui ou ali, mas nada demais. A praia vai enchendo. Os shows continuam. A praia vai enchendo. Praia? Eu sinto a areia, mas não a vejo. só vejo pessoas. Como tá chegando mais gente? Como cabe tanta gente? Cinco! Cadê a vovó? Quatro! Cadê minha taça de plástico? Três! Merda! A cidra abriu antes da hora. Dois! De onde surgiu tanta gente?! UM!


Começa um espetáculo no céu. Você entra num frenesi pelos fogos e esquece que está cercado pela maior quantidade de bípedes por metro quadrado do mundo. Toda a catarse pela chegada do novo ano substitui qualquer outro sentimento. É hora de se pensar em tudo que não se fez no ano que se passou e tudo que não se vai fazer no novo ano, mas seria legal se fizesse. Abraça-se as pessoas queridas. Abraça-se as pessoas que você não conhece. É ano novo! Não há conflitos. Todos queremos e pensamos num mundo melhor. Só existe a paz e o amor. Os fogos acabam. O show volta. Você pula no meio da multidão. Mas você não quer pular. Você está sendo levado. Alguém abriu outra cidra e o que era uma mera rolha se torna uma arma letal, que te atinge com uma pressão de níveis insalubres. Acabou o amor. Você só pensa em sair dali. Mas essa é uma missão ainda mais difícil do que tentar não segurar na corda do caranguejo pra lá e pra cá em meio a milhões de mamíferos em Copacabana.

Enfim é outro dia. Tudo parece novo. Parece? Deveria. Mas o tempo não recomeça. O tempo continua. Ainda é feriado. Mas amanhã é dia de trabalho. Amanhã é dia de começar a dieta que eu prometi começar hoje, mas não vou porque hoje já tá tarde. Amanhã é sábado? Segunda eu começo a dieta. Esse ano promete!

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