quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Ode ao transporte público (ou como o transporte público nos prepara a viver em sociedade)

Todos os dias, milhões de pessoas utilizam do transporte público nessa antessala do inferno conhecida por Cidade do Rio de Janeiro. Divididos entre ônibus, trens, metrô, barcas, vans e afins, as pessoas movimentam-se achando que estão apenas se deslocando no espaço. Porém, uma viagem de transporte público pode proporcionar mais do que apenas o deslocamento. Pode te dar noções de cidadania, te ensinar a ser paciente, te ensinar a dividir; ou seja, te ensinar a ser uma pessoa melhor e se mostrar como uma aventura no nosso cotidiano. O meu amigo leitor ou minha amiga leitora deve achar que estou louco. Posso até estar. Mas, ao fim, espero que me faça entender.






A viagem em si começa com a catraca. A função dela é, oficialmente, registrar o número de passageiros do transporte a que está associada. Na verdade, a catraca funciona como um portal, onde sua dignidade é barrada. A partir dali, meu amigo, você vai fazer coisas que até mesmo você duvidaria.

Digo isso porque todos criticam a correria para pegar um lugar sentado. Mas, do outro lado da catraca, a história é diferente. Abandonamos qualquer civilidade e corremos como quenianos, utilizando todas as técnicas aprendidas nas festas infantis na brincadeira da dança das cadeiras.

Mas, passado esse frenesi, o transporte público começa a te ensinar. Primeiro ele ensina como a meritocracia é dura com quem não atinge seus objetivos. Porque se você não conseguiu um lugar sentado você vai ser punido estando em pé, usando de forças extraordinárias para se segurar nas curvas feitas pelo Felipe Massa frustrado. Mas não se preocupe, você não estará sozinho.

Aliás, essa é outra lição do transporte público. Você nunca vai estar sozinho. Você acha que o horário do rush já passou e que você vai conseguir ir tranquilo, sentado. Quando você vê, você está em pé, desafiando a ideia de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Mas isso não impede a senhorinha de comer amendoim, em pé, do seu lado, se escorando em você. 

E a democracia do transporte? Não importa sua cor, credo ou classe social. Dentro do buzumbo somos todos um. E nos importamos uns com os outros! Quem nunca gritou para o motorista piloto, ao ver que uma senhora com sua prole iria perder o ponto, a célebre frase "vai descer, piloto, tá com criança"? É em momentos como esse que se percebe um lampejo de esperança na humanidade.

Uma lição importantíssima que o transporte público nos ensina é ter a paciência de esperar. Minha amiga leitora que espera pelo príncipe encantado que me perdoe, mas nenhuma espera se compara a espera o transporte no ponto ou estação. E, como bom professor, quanto mais ansioso você está, mais o transporte te faz esperar. Mas é pro seu bem. É pra que você aprenda tão valiosa lição.

Então, leitores, peço que percebam essas pequenas lições do nosso transporte público e vocês verão a beleza de se estar em pé, no calor, dentro de um ônibus que estava lotado antes de entrarem nhenhentas pessoas no último ponto e que você não tem mais adjetivo pra atribuir.


P.S.: Texto feito dentro de um BRT, onde eu me mostrei digno de ter um lugar sentado.

6 comentários:

  1. Como assim você não usou o exemplo de solidariedade ao acharem o pé de um tênis perdido no brt?!

    ResponderExcluir
  2. Como assim você não usou o exemplo de solidariedade ao acharem o pé de um tênis perdido no brt?!

    ResponderExcluir
  3. Quem um dia me disse que eu escrevo bem, precisa conhecer o seu blog. A palavra pra você, mesmo em dia de Natal, é FODA (em um mundo nota seis). Só é possível te amar!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu amor! Você sempre mais gentil do que eu mereço. Obrigado por existir e, por favor, continue existindo. Te amo.

      Excluir