sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Ah, o Natal...

No decorrer do ano, gera-se aquela expectativa pelo fim de ano. É começar o jingle da Leader, começar os comentários sobre a árvore da Lagoa e ouvirmos o sucesso de Simone, "Então é Natal", que entramos num frenesi natalino como se fosse nosso primeiro Natal. Aí começam os preparativos para a ceia, define-se em que casa ocorrerá as festividades da família, o que cada um vai levar. Compram-se os presentes, as crianças esperam pelo Papai Noel e todos entramos num clima de paz e harmonia pelo nascimento de Jesus Cristo. Tudo muito bonito. Mas, no fundo disso tudo, estão situações que nos passam despercebidas por estarmos embriagados de comida  pelo clima natalino. É sobre essas situações que eu vou falar.



As festividades têm início, a meu ver, com a retirada da árvore de Natal de seu esconderijo onde fica entocada pelos outros 11 meses. A neve característica dos extremos polares é substituída por uma "leve" camada de poeira. Os enfeites que estão guardados, que seriam suficientes para enfeitar, pelo menos, toda a mata atlântica, são insuficientes para decorar o simpático pinheiro de plástico de 1,50m, ao menos de acordo com a sua mãe. E aqueles maravilhosos pisca-piscas? Por mais que você enrole com a paciência de monges tibetanos, existe uma horda de pequenos demônios cuja missão é enrolar aquela merda nos meses subsequentes.

Tem também a saga para comprar os presentes. Tem os brinquedos da crianças, as roupas das crianças mais velhas, as cuecas e meias pros sobrinhos, o artesanato pra vó. E, independentemente do dia que você vá, o shopping estará lotado. E não, você não irá acertar o presente de todo mundo. Nem tente. Mas relaxa que, pra facilitar, estamos na estação mais quente do ano, então você nem irá reparar nisso tudo, pois você estará preocupado em não ter queimaduras de terceiro grau ao simplesmente ir na lojinha da esquina.

No mesmo nível do shopping, o mercado estará lotado também. Aliás, estar lotado é uma característica de qualquer local nesta época do ano. Mas o mercado ainda tem uma alegria a mais: as ofertas relâmpago! Ah, que alegria é ouvir que a margarina está custando 10 centavos a menos. Como um milagre natalino, as senhorinhas correm com o vigor da juventude que tinham há 50 anos atrás. Além disso, você precisa estar preparado para brigar pelos animais mortos da sessão de congelados. E não esqueça de pesá-los, como fazem os mais desavisados, travando todo o caixa.

Mas, enfim, chega o dia! Na verdade, chega a véspera. Mas a véspera é tipo o dia. É quando todas as toneladas de alimentos serão preparadas para a ceia do fim do dia. É uma linha de produção quase industrial para uma refeição com toda a família. Mas você está feliz demais para perceber que passou o dia todo na cozinha. É Natal, afinal de contas!

E os parentes começam a chegar. Nos produzimos todo para permanecermos dentro de casa para jantar com pessoas da nossa família. Mas tem aqueles parentes distantes, então é meio que ver gente nova. A mesa está posta. Mais pessoas chegam. Você não repara, mas sua tia tem tantos penduricalhos quanto a árvore. Você também não repara, mas, de repente, tem uma ave morta em cima da mesa enfeitada com uma variedade absurda de frutas. Não sei em que parte do rito cristão está esse ritual da ave ornamentada, mas esta é uma constante em todas as famílias.

Chega a meia noite. Oficialmente liberam a comida da ceia, mas o tio já comeu uma boa parte dos petiscos. Inclusive as frutas que estavam espetadas na gloriosa ave. Mas é hora em que começamos a comer. E não paramos mais. A gente já ficaria satisfeito com aquele arroz cheio de coisas, um pouco de farofa e um pedaço daquele bicho que voa. Mas tem pernil também. E tem bacalhau. Tem suflê. Alguém falou em pudim? O que tem a ver churrasco com Natal? Mas tem aí? Põe um pouco pra mim! 

E assim a noite se desenrola até o momento da troca de presentes. Os priminhos distantes surgem como pequenos tratores, destruindo tudo que veem pela frente. Aquele papel de presente que você levou três horas para conseguir colocar em volta daquele presente é desfeito por aquele pequeno ser sem coração, que destrói tudo com requintes de crueldade, em questão de segundos. Mas a felicidade das crianças te impede de perceber isso. Eu sei. É isso que chamamos de magia de Natal.

Por fim estamos empanzinados com toda a comida. E ainda sobrou. Óbvio. Isso vai ser o almoço do dia seguinte. E a janta também. E o almoço do outro dia. Na teoria, era tudo ceia de natal. Na prática, é tudo uma grande refeição de, aproximadamente, três dias. Até porquê, nunca paramos de comer. Enquanto a gente tá parado, a gente pega um pedaço de rabanada. Enquanto não esquentam a comida, a gente come um pouquinho daquele bolo, só pra passar o tempo.

Até que tudo acaba e você não sabe como conseguiu comer tanto. As coisas parecem voltar ao normal. Mas não se iluda. Em uma semana o ano acaba e tem outra festa: o Réveillon. Mas essa festa tem suas peculiaridades a parte, que, embora lembrem a festa natalina, te colocam em outras situações estranhas. Mas aí fica pra próxima. Agora, eu vou voltar aos meus afazeres. Será que ainda tem rabanada?


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